Entrevista concedida à Agência Brasil

Concedi uma entrevista ontem à Agência Brasil.

O jornalista preferiu escrever uma matéria, pinçando minhas respostas.

Aqui a matéria : http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-10-18/blogueiro-diz-que-falsa-noticia-sobre-ministra-nao-passou-de-pilheria

Abaixo publico a entrevista na íntegra:

Agência Brasil – Seu nome real? Profissão? Ainda mora em Natal (RN)?

 J.M. – Prefiro manter meus dados pessoais restritos no momento. Não quero manifestações pacíficas de Black blocs na porta do meu escritório ou da minha casa.

Ainda moro na agradabilíssima capital do Rio Grande do Norte.

 Agência Brasil – O blog foi criado em setembro de 2012? Com que finalidade? Acredita que o caráter humorístico de seus textos fica claro aos leitores?

 J.M. – Sim, o blog foi criado em setembro de 2012. Antes eu usava um outro, no blogspot, que acabei abandonando.

Respondendo a segunda pergunta, devo informar que, diferentemente do que alguns estão propalando, não faço parte de nenhuma conspiração “liberal-fascista” que recebe grana de multinacionais para desestabilizar o governo progressista do nosso país por meio de mentiras.

Não criei o blog com qualquer outra finalidade que não fosse publicar o conteúdo lá exposto. Como o Brasil vem sendo palco de situações surreais no campo político, resultado da explícita inversão de valores capitaneada por setores “progressistas”, qualquer mentira absurda se torna verossímil.

Talvez seja por isso que muita gente toma como verdade o que escrevo. Acredito que uma pessoa com uma inteligência não muito maior que a de um símio seria capaz de perceber que geralmente escrevo pilhérias.

 Agência Brasil – Como surgiu a ideia de escrever o texto que está gerando toda esta polêmica e por que escolheu a ministra como “personagem”?

Olha, a idéia desse texto surgiu quando comecei a imaginar as possíveis reações de certos setores ao vídeo em que o policial alveja um assaltante.

Não é necessária muita imaginação para saber que diante de uma situação como a retratada no vídeo, alguns “formadores de opinião” automaticamente reagiriam com os mesmos chavões de sempre, baseados na premissa de que a violência é derivada de desigualdades sociais entre ricos e pobres.

Há diversas teorias que tentam explicar esse ponto de vista. No direito, por exemplo, existe a chamada Teoria da Co-culpabilidade, que diz, grosso modo, que o Estado é co-responsável pelos atos delituosos praticados por quem, digamos, não teve muita oportunidade na vida.

Essa teoria, acredito, foi a inspiradora do § 1º do artigo 187 do Código de Processo Penal, que diz que no interrogatório de réu em processo criminal será questionada, entre outras coisas, as “oportunidades sociais” que o sujeito teve.

Isso tem relevância na chamada dosimetria da pena, pois a falta de “oportunidades sociais”, de certo modo, é elemento capaz de abrandá-la.

Escolhi a ministra Maria do Rosário como “personagem” do texto porque ela representa muito bem esses clichês a respeito do tema “violência”. As declarações dela são previsíveis e podem ser sintetizadas em meia dúzia de frases de efeito.

Por isso muita gente tomou o texto como verdade.

 Agência Brasil – Concorda com a acusação de que muitos leitores tomaram como verdadeiras as supostas declarações atribuídas à ministra, não só lendo-as em outros sites e nas redes sociais, onde o texto foi tirado de seu contexto original, mas também em seu blog, como demonstram muitos dos comentários postados antes do desmentido da ministra?

 J.M. – Sim, muita gente acreditou no texto. Mas isso é algo que independe da minha vontade.

Acredito que esse seria um momento oportuno para que a ministra repensasse certas posições.

Já pensou se eu tivesse atribuído tais declarações ao Jair Bolsonaro? Quem acreditaria?

Se muita gente acreditou, foi pelo fato dela ser capaz de dar declarações com o conteúdo semelhante.

 Agência Brasil – Concorda que isso pode tê-la prejudicado, inclusive politicamente?

 J.M – O que fiz no texto foi resumir os posicionamentos de Sua Excelência, baseado em declarações anteriores, e aplicar a uma situação real com a intenção de fazer parecer absurdo.

Se isso a prejudicou politicamente é um ônus que ela tem que suportar.

De todo modo, quem criticou a ministra tomando por verdadeiras as declarações, também criticaria se a vissem falar sobre qualquer outro assunto semelhante.

 Agência Brasil – Como avalia a reação da ministra, principalmente a iniciativa de acionar a PF para investigar o caso?

 J.M – Olha, acho que é afetação demais da parte dela. Até porque nem é necessário acionar a Polícia Federal, uma vez que me prontifiquei a informar meus dados.

Acredito que a Polícia Federal tem muito trabalho e não é justo ficar perdendo tempo comigo.

Um tempo atrás a senadora Ana Rita (PT-ES) também acionou a PF para descobrir quem eu sou com a intenção de me processar.

Quando soube do fato, liguei para o gabinete dela, que me encaminhou para a Procuradoria do Senado, que por sua vez me encaminhou para a Polícia do Senado, onde pude finalmente informar meu nome e endereço.

Mais de um mês após, a polícia “descobriu” quem eu era e fez um estardalhaço na imprensa local.

Não há necessidade de investigação. Basta pegar os dados que já estão no outro inquérito.

De todo modo, devo dizer que o caso não se trata de difamação. Se ela se desse ao trabalho de consultar um advogado, saberia disso.

 Agência Brasil – Algum receio quanto à promessa da ministra de processá-lo e pedir para que o blog seja retirado do ar?

 J.M – Não, não tenho qualquer receio. Não vejo sentido em ficar assustadinho diante da possibilidade de ser processado.

A Constituição me garante o contraditório e ampla defesa. Então, que venha o processo.

Quanto a tirar o blog do ar, acho pouco provável, uma vez que o provedor é situado noutro país. Caso isso aconteça, aí sim, vai ser um imenso prejuízo político pra ministra, já que em casos como esse, quando uma pessoa se sente ofendida por alguma publicação, é assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, o que torna descabida a intenção de tirar o conteúdo do ar.

Caso ela logre êxito nessa empreitada insana, não tem problema: Abro outro blog.